Em 2018, os gastos com a campanha eleitoral foram menos decisivos para a eleição dos eleitos que em pleitos anteriores. A conclusão é de estudo inédito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Fundação Brava. Quem discorda desse ponto de vista é o cientista político Lúcio Flávio Vasconcelos, doutor em história política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que diz que o poder do dinheiro continua preponderante nas campanhas eleitorais.
“Para se candidatar a um cargo eletivo, principalmente a deputado federal, o pleiteante tem que ter muito dinheiro para viabilizar sua campanha. Vamos ficar só nos gastos legais e lícitos: O candidato tem que contratar uma empresa de marketing político, cabos eleitorais, confecção de material de campanha e percorrer dezenas de municípios. Sem o apoio de vários prefeitos e centenas de vereadores, a sua candidatura é inviável”, disse Flávio destacando que por isso, os candidatos firmam acordos espúrios com empresários para o financiamento clandestino de sua campanha.
“Uma vez eleito, ele irá defender seus interesses no Congresso Nacional. São candidatos ideológicos que defendem o sistema econômico atual e manutenção do status quo. Assim, encontram quem os financiem para vencer a disputa”, disse o especialista.
Já de acordo com o estudo da FGV, o último pleito foi o primeiro em que se observou queda na concentração de recursos pelos que conquistaram o cargo. De 2002 a 2014, os deputados federais eleitos responderam por uma média de 62% de tudo o que foi gasto na campanha à Casa. Em 2018, esse percentual caiu para 44%.
Ainda foi reduzida pela metade a disparidade entre os gastos de homens e mulheres, considerando todos os candidatos. Em 2014, os homens gastaram R$ 1,2 bilhão a mais. No ano passado, a diferença ficou em cerca de R$ 550 milhões. A principal explicação para o fenômeno são as novas regras para financiamento de campanhas. Com a proibição de doações por empresas, o poder de arrecadação dos candidatos à Câmara caiu.
Os mais afetados foram aqueles que costumavam ser os grandes beneficiados pelas doações empresariais: candidatos veteranos, homens, brancos, com ensino superior e, em geral, de estados considerados de maior peso no cenário político nacional.
FINANCIAMENTO DE CAMPANHAS
Como era Empresas podiam doar até 2% da sua arrecadação bruta, o que foi proibido em 2015. Verba pública vinha do fundo partidário
Como foi em 2018 Criou-se um fundo público eleitoral de cerca de R$ 1,7 bi para bancar as campanhas. Pessoas físicas puderam doar até 10% de seus rendimentos do ano anterior. Não houve limite para autofinanciamento, desde que fosse respeitado o teto de gastos para cada cargo (R$ 2,5 mi para deputado federal).
PB Agora