O percentual de brasileiros que declara ser adepto das apostas esportivas superou a compra de modalidades tradicionais do mercado financeiro, a exemplo dos CDBs, Fundos de Investimento e de ações na Bolsa de Valores.
O que aconteceu
Brasil tem 23 milhões de apostadores. O número equivale aos 15% da população com mais de 16 anos que declaram ter realizado ao menos uma aposta em 2024. O dado faz parte do Raio-X do Investidor Brasileiro, realizado pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), em parceria com o Datafolha.
Apenas a poupança supera os apostadores. O estudo mostra a caderneta como investimento preferido da população, utilizado por quase um de cada quatro brasileiros (23%). O uso da caderneta, no entanto, aparece em tendência de queda desde 2022, quando a aplicação era utilizada por 26% da população.
Investimentos tradicionais perdem para as bets. Aparecem com percentuais limitados os títulos privados, como debêntures e CDBs (6%), fundos de investimento (5%), criptomoedas (4%), a compra de ações na Bolsa (3%) e a aquisição de imóveis para a revenda (3%).
Mais de 100 milhões de brasileiros não investem. O valor equivale a 63% da população. Para 42% dos que afirmam desconhecer os produtos financeiros (68 milhões), a possibilidade de ingressar no mundo dos investimentos neste ano permanece descartada. Os demais têm os olhares voltados para os produtos não financeiros.
Apostadores
Entre os adeptos das bets, 16% veem a prática como forma de investimento. O patamar, equivalente a 4 milhões de pessoas, é menor do que os 22% que tinham a mesma percepção em 2023. Mesmo com a queda, o percentual é considerado preocupante. “Esse dado indica que a saúde financeira e emocional dos brasileiros precisa de cuidados”, lamenta a planejadora financeira Adriana de Arruda.
Há mais apostadores entre os investidores. Conforme o levantamento encomendado pela Anbima, 43% das pessoas que apostam também investem em produtos financeiros. Proporcionalmente, o percentual de apostadores entre as pessoas investidoras (17%) é maior do que entre os que não investem (13%).
Os investimentos têm o objetivo de oferecer retorno ao longo do tempo, fazendo o dinheiro render e aumentar. Por outro lado, as bets são jogos de azar, que estão trazendo prejuízos financeiros para muitas famílias.
Adriana de Arruda, planejadora financeira
Ganhar dinheiro é o principal motivo para apostar. Para 23% dos apostadores, as bets são uma chance de ganhar um dinheiro rápido em momentos de necessidade ou de embolsar uma grande quantia. Entre aqueles que avaliam as apostas como investimentos, o percentual salta para 67%.
Quase metade dos apostadores tem dívidas. A inadimplência atinge 47% das pessoas que apostam, patamar que alcança 51% entre os que veem as bets como forma de investimento. Conforme os números, o estudo afirma que uma em cada cinco pessoas endividadas apostou em 2024.
Tentativa de recuperar perdas com novas apostas é comum. A prática é uma tendência entre 52% dos que apostaram no ano passado. A situação é agravada com o resultado de que 30% dessas pessoas afirmaram ter apostado mais dinheiro do que poderiam perder. Para continuar apostando, 10% já tiveram que recorrer a empréstimos ou venda de bens.
Vício em bets
Tendência ao vício em apostas afeta 3 milhões. Entre a população que recorreu às bets no ano passado, 10% apresentaram alta tendência ao vício em apostas, mostra o relatório. Ainda assim, a prática nem sempre pode ser associada a comportamentos compulsivos, já que mais da metade dos apostadores (59%) aparece em nível mais baixo.
Maior tendência ao vício resulta em gastos três vezes maiores. Os indivíduos mais propensos à compulsão destinaram, em média, R$ 683,64 no universo das bets. O valor é 216,5% maior do que a média (R$ 216). No grupo, sete em cada dez apostaram uma ou mais vezes por semana.
Mais de um terço investe em produtos financeiros. Cerca de 35% das pessoas com alta tendência ao vício em apostas são também adeptas dos investimentos, patamar inferior em relação ao verificado na população geral (37%). Além disso, 82% pretendem realizar algum tipo de aplicação neste ano.
Uol