O ano de 2016 vai ficar marcado como o gran finale de uma crônica anunciada, revelada pela derrota de Aécio Neves (PSDB) para Dilma Rousseff (PT), em 2014. A disputa acirrada foi vencida pela petista com a falsa garantia de que a economia do país estava bem e que seria mantida a política de conquistas sociais iniciada com o ex-presidente Lula. O castelo de cartas petista caiu após o fechamento das urnas, quando a mesma Dilma propôs um ajuste fiscal duríssimo.
O que se seguiu depois de janeiro de 2015 todo mundo sabe, com seus reflexos sentidos agora. Arrocho na economia, população nas ruas, pautas bombas na Câmara dos Deputados puxadas pelo ex-presidente e atual inquilino da carceragem da Polícia Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), impeachment de Dilma Rousseff (PT) e posse de Michel Temer (PMDB) no poder. Este último, atento ao movimento antipolítica e anti-PT, transformou o PSDB em sócio no governo.
E as urnas revelaram neste ano que ele leu corretamente os sinais. O descrédito da população com a política e, principalmente, com o partido antes dominante forçou uma guinada que vai do centro à extrema-direita, ao conservadorismo, com um capital que pode influenciar demasiadamente as eleições de 2018. Talvez não com as mesmas figuras da centro-direita de 2014. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) viu o seu partido se fortalecer, mas trazendo no bojo o fortalecimento do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), seu rival doméstico.
O poder de influência do PSDB e sua política mais privatista e liberal ganhou força com a crise econômica e política, fazendo com que o número de pessoas residentes em cidades comandadas pelo partido saltasse de 25,8 milhões para 48,7 milhões. O PMDB também ganhou impulso em número de partidos, passando de 1.017 para 1.038. Apesar disso, mais presente nos rincões. O partido conseguiu o domínio de quatro capitais, nenhuma entre as joias da coroa (São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre).
As urnas revelaram também um Brasil onde reina uma direita que perdeu a vergonha, deixou de se esconder e negar suas posições e agora aparece de cara limpa. Algumas protagonistas de episódios violentos e protestos com a exaltação até de Donald Trump, como se viu na avenida Paulista recentemente. O outro ponto do fenômeno é o descrédito da população na política, fazendo com que muitos tenham chegado ao poder se dizendo não-políticos. São os casos do prefeito eleito de São Paulo, João Dória (PSDB), e de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS).
O próximo ano e meio será decisivo para indicar se esse movimento à direita será o suficiente para influenciar o pleito de 2018. Em momentos de crise, o humor da população se apresenta instável, hora indo em uma direção, hora em outra. As pesquisas mostram que o bombardeio contra o ex-presidente Lula (PT) não o matou politicamente, a ponto de se vislumbrar força para desafiar a onda direitista daqui a dois anos, caso não seja preso.
Além disso, é difícil imaginar que o presidente Michel Temer saia do governo com alguma chance eleitoral daqui a dois anos, dada a extrema impopularidade, só reversível com um milagre na economia, o que não parece factível a curto prazo. Ele tende a ser tragado pelo ostracismo pós-governo, fechando o caixão da desastrada era Dilma-Temer. Agora fortalecido, o PSDB tende a chegar quebrado em 2018, com a briga entre Aécio Neves e Alckmin pela disputar da presidência.
As eleições de 2016 revelaram muito sobre 2018, mas ainda é difícil desenhar na areia da praia um cenário capaz de resistir ao vai e vem das ondas “progressista” e “conservadora”. Caberá à economia, mais uma vez, apontar o caminho.
Prefeitos eleitos para as capitais por ordem de partidos
São Paulo – SP
João Doria (PSDB)
Belém – PA
Zenaldo Coutinho (PSDB)
Maceió – AL
Rui Palmeira (PSDB)
Manaus – AM
Artur Neto (PSDB)
Porto Alegre – RS
Nelson Marchezan Junior (PSDB)
Porto Velho – RO
Dr Hildon (PSDB)
Teresina – PI
Firmino Filho (PSDB)
Boa Vista – RR
Teresa (PMDB)
Cuiabá – MT
Emanuel Pinheiro (PMDB)
Goiânia – GO
Iris Rezende (PMDB)
Florianópolis – SC
Gean Loureiro (PMDB)
Fortaleza – CE
Roberto Claudio (PDT)
Natal – RN
Carlos Eduardo (PDT)
São Luís – MA
Edivaldo Holanda Júnior (PDT)
Campo Grande – MS
Marquinhos Trad (PSD)
João Pessoa – PB
Luciano Cartaxo (PSD)
Palmas – TO
Amastha (PSB)
Recife – PE
Geraldo Julio (PSB)
Rio de Janeiro – RJ
Crivella (PRB)
Belo Horizonte – MG
Kalil (PHS)
Curitiba – PR
Rafael Greca (PMN)
Aracaju – SE
Edvaldo Nogueira (PC do B)
Macapá – AP
Clécio (REDE)
Rio Branco – AC
Marcus Alexandre (PT)
Salvador – BA
Acm Neto (DEM)
Vitória – ES
Luciano (PPS)